"O calendário assinalava o dia 20 de
Dezembro de 1979, quando a política
entrou de rompante na vida de Bagão
Félix. Vésperas de Natal, o primeiro
governo da AD (Aliança Democrática)
tomava as rédeas do país. “Considero-o o
dia mais longo, pois foi decisivo”, explica o
ex-ministro. No Porto, o jovem economista,
então no Instituto Nacional de Seguros
(actual Instituto de Seguros de Portugal),
recebia um “inesperado” telefonema, a meio
de uma reunião do conselho directivo. Do
outro lado da linha estava João Morais Leitão,
recém-empossado ministro dos Assuntos
Sociais. “Precisava de falar comigo ainda nesse
dia. Atrevi-me a pensar que ia ser convidado
para chefe de gabinete, jamais para o Governo.”
Chovia a cântaros, o frio e a ansiedade
incomodavam. Acabada a reunião, apanhou
o comboio de regresso à capital, onde o esperava
o conhecido advogado, com o convite
para secretário de Estado da Segurança Social.
“Aquele momento alterou tudo, nunca ponderara
entrar na política.” A solicitação enchia-o
de orgulho, mais ainda de receios. É certo que
há muito se rendera ao “carisma” de Francisco
Sá Carneiro, acompanhara a sua eleição com
emoção e considerava o seu governo “o primeiro”
do Portugal democrático “merecedor
de admiração”. Mas sabia-se “muito jovem,
sem traquejo” nas lides de São Bento. A ansiedade
daquele dia arrastou-se por mais de uma
semana. Passou a quadra natalícia em Ílhavo,
concelho de Aveiro, a escutar o parecer da
família. “Foi uma decisão dificílima”, recorda
agora. Num dos pratos da balança, muito
pesava o convite ser endereçado pelo advogado
que, anos antes, o havia iniciado na Mundial,
então propriedade do grupo Champalimaud.
No outro, somavam-se as dúvidas: “Queria
apostar na profissão e aceitar implicava
mudar a agulha. Além disso, era muito novo.”
Finda a passagem de ano, o telefone
voltou a tocar. De novo, Morais Leitão.
“Disse-me: ‘Olhe, não precisa pensar mais.
Já dei o seu nome, está feito’.” E o economista,
que ainda equacionava prós e contras,
respirou fundo: “Já está, já está. Seja o que
Deus quiser.” As histórias giram como o
mundo e esta não é excepção. Em 2004,
foi a vez de Bagão Félix, então ministro das
Finanças, convidar para secretário de Estado
do Tesouro, nada mais nada menos do que
Miguel Morais Leitão, filho do advogado
que o “metera” na política. “Coincidências
que fazem parte do meu dia mais longo.”"
Bagao Felix, na revista D do jornal O Publico de hoje
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