O texto esta disponivel aqui. Aqui estao as razoes porque maradona tem de estar no Mundial da Alemanha!! Fica a totalidade do texto, antes que ele o retire de circulacao... (Os negritos e sublinhados sao meus...)
Só a tentar colocar uma foto que não foi meia hora:
Assistimos ontem à maior desinfestação táctica do sistema "mourinho" de que há memória. É muito dificil perceber de táctica e, quando se vê um jogo pela televisão, entender o que é que tacticamente se está a passar tarefa absolutamente impossivel. Não percebo a ponta de um corno de táctica, conheço pessoalmente três pessoas que dizem que percebem, e uma que percebe realmente. O mais que se pode fazer é apontar os acontecimentos.
Qualquer jogador do Chelsea que ontem recebesse a bola, além de ter dois barceloneses em cima a babarem-se como cães com raiva, não tinha, radicalmente não tinha, ninguém a quem passar o testemunho que não fosse um companheiro que estivesse atrasado em relação a ele, o que resultava sempre, e esta é a história do jogo de ontem, que quando o carreiro de atrasos chegava (processo que demorava quase sempre pouco mais de dez segundos) aos aos defesas (Ricardo Carvalho, Terry, Gallas ou Paulo Ferreira), estes procediam à humilhante tarefa de simularem que estavam a tentar desmarcar um companheiro a 100 metros de distância, despachando um tiro com toda a potência muscular que tinham. Ou seja, em direcção à Inglaterra.
Não chega dizer que Mourinho tem piores jogadores que o Rijkaard: Mourinho tem os jogadores perfeitos para ganhar o campeonato inglês de manhazinha cedo antes do pequeno almoço, e ele escolheu-os por isso. Robben e Duff são jogadores que gostam de ver a bola a andar à frente deles, gostam de planicies esverdeantes sem ninguém, homens das estepes. Rijkaard não lhes deu nada disso e, façamos justiça, a - infelizmente inglória - vitória em Londres na primeira mão facilitou-lhe muito a vida.
Drogba passou todo o tempo a dar saltinhos em busca das bolas pontapeadas lá de longe pelos seus companheiros defesas e a levar cotoveladas na nuca. Joe Cole, um inglês minimamente digno, tem meia dúzia de quilos, e Puyol e Bronckhorst devem estar agora a tirar dos dentes os últimos bocadinhos daquele biscoitinho doce. No meio campo, vimos Lampard, coitado, um rei na albion dos cegos, e um génio, Makelele, tentando rodopiar sobre si, para trás para a frente e para os lados, louco por conseguir fazer uma passe que não fosse um atraso.
Temos que estar felizes pelo que aconteceu. O Barcelona comprou (optou) pelo preço do Beckham ou do Woodgate (façam Google deste, pode ser que descubram quem é), o Robaldinho Gaúcho, e, por um pouco menos, Deco. Estes dois jogadores são, aquilo que se pode chamar, a Federal Reserve do Barcelona. Uma pessoa pode estar certa que, passando a bola a uma deles, dali ela só sairá para outro da mesma equipa. Se for preciso esperar três procuradores gerais da república, espera-se, e tudo isto nas zonas do campo mais povoadas do planeta, a 25 metros da linha de golo adversária.
Jogadores destes não existem por aí aos baldes, e de nacionalidade inglesa existe um, Rooney. O que acontece nesta tipologia de atletas é que se não se for mesmo muito bom é-se uma merda, practicamente inválido. Por isso é que o Barcelona sem Ronaldinho e Deco pouco mais é que o Atlético Madrid ou o Villareal. O Chelsea, ao invés, pode ficar sem meia dúzia de jogadores de um momento para o outro que ninguém nota a diferença; podem até perder os jogos, mas ninguém alguma vez duvidará de que foi o Chelsea a jogar.
Ronaldinho e Deco, no futuro próximo talvez também Messi, são, pelo contrário, jogadores que arriscaram uma carreira inteira pelo irresponsável egoísmo de serem reconhecidos pessoalmente por cada bola em que tocam. Portugal é um cemitério enorme de naufrágios destes. Em qualquer clubeco de aldeia português - e, ainda há poucos anos, de lés a lés pelas ruas e calçadas - é possivel descobrir carcaças e carcaças de jogadores que tomaram a decisão de não fugir atrás da bola apressada: olham-na, mexem-lhe, têm uma pequena conversa, conhecem-se melhor e depois combinam os dois uma maneira de fazer uma coisa bonita de se ver, que eventualmente poderá dar em jogada que, na remotíssima hipótese de resultar, seria uma coisa bonita de se ver, e em ultérrimo e extravagantemente rara ocasião, em golo.
Sucede que este tipo de jogadores, além de, quando apenas medianos, perderem sozinhos o quádruplo dos jogos que ganham, têm, invariavelmente, um resultado: destactitizam as equipas, ou, de outra maneira, a existir táctica a táctica é a táctica deles; basicamente, eles são a táctica (Valdano).
Equipa onde o Ronaldinho ponha os pés amanhã será amanhã, inevitavelmnete, muito mais Barcelona do que o Barcelona que ele abandonou, mesmo que fosse o Professor Neca a treiná-la. Até Mourinho, a comandar Ronaldinho, com certeza abdicaria de o treinar, concentrar-se-ia nos outros dez da equipa. Mourinho domesticou Deco, mas como é muito mais inteligente do que todos os seus instintos juntos (e isto é o maior elogio que se pode fazer a uma pessoa), deixou-lhe aberta uma nesga impercepticel, que só um génio como génio sabia Mourinho que Deco era seria capaz de ver, sendo assim campeão europeu com uma equipa de 3 milhões de contos, coisa que nem duzentos Rijkaards em duzentas tentativas conseguiriam.
Rijkaard deve ser o nosso heroi porque parece conseguir encafuar trinta selvagens numa mesma equipa sem perder o controlo táctico: Lá estão Ronaldinho, Deco, Messi, e até Eto'o, um preto louco, que só daqui uns aninhos estaremos em condições de apreciar convenientemente. Punha o meu cu à disposição dos paneleiros dos Renas e Veados só para trocá-los de equipa e ver o que é que cada um faria com os jogadores do outro.
Mourinho está a colher o que plantou, e, a menos que mude ligeiramente de trajectória, merece que um dia alguém do Renas e Veados o apanhe agachado. O Chelsea não jogou a ponta de um caralho, e se o árbitro fez um trabalhinho inteligente contra o Chelsea, mereceu cada uma das sacanices. Sete milhões de contos pelo Sean Wright-Philips? Foi uma angustia ver o Robben e o Duff, grandes jogadores, entalados em infinitas correrias vãs entre duas cortinas de jogadores imperturbáveis e confinates que, recuperando a bola, sabiam ter pelo menos dois minutos de descanso antes de alguém de azul aparecer novamente por aquelas bandas em posse de bola.
Foram estes dois minutos, multiplicados por toda a partida, que fizeram a diferença. Foram Ronaldinho e Deco (o único jogador do mundo que sem cair saca faltas atrás de faltas) que seguraram por aqueles segundinhos preciosos - para os maus jogadores horas infindas -, e por entre amazónias e amazónias de pernas hostis, bolas que pareciam impossiveis, dando tempo a que os coelgas, simples cidadãos deste mundo, pensassem no que haveriam de fazer, no que é que eles e o mister "trabalharam durante a semana"
José Mourinho, José Mourinho, José Mourinho... estás ver? Não podes fazer nada contra os melhores jogadores do mundo de cada momento. Devias dar-nos o prazer de te ver a dar graças a isso..... Isso sim, isso seria a segunda coisa mais bonita de se ver no jogo de ontem.
maradona
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