"Nunca conheci quem tivesse levado porrada."

2006/05/26

Entrevista nao publicada...


Data: Janeiro de 2004
O que falta a Portugal para manter os seus licenciados a trabalhar cá? Faltará apenas emprego?
A Portugal falta a vontade de ser melhor. A minha opinião sobre a área ciência, bem como em outras áreas, remete-se para uma questão de mentalidade. Acho que em Portugal existem inúmeras potencialidades, mas que depois são mal aproveitadas por uma simples questão de mentalidade. Antes de tudo existe muito a mentalidade de se seguir os caminhos mais fáceis e mais óbvios, não querendo dizer com isto que somos preguiçosos, porque sinceramente não que o somos, mas tenho a ideia de que as pessoas fazem apenas o mínimo e indispensável para atingir algo. Depois ainda existe muita gente nas hierarquias sem o mínimo de competência para desempenhar essas tarefas. Falta também espírito combativo, as pessoas são susceptíveis de se acomodarem as situações. Existe receio da mudança em direcção ao desconhecido, mesmo quando se tem a percepção de que as coisas serão melhores…
Em suma acho que não e’ só a questão do emprego que leva alguns dos a sair de Portugal. Falta também carácter empreendedor e melhor educação da população em geral. No entanto não queria terminar esta pergunta com um retrato negro, pois sou optimista e sinto que as coisas, ao pouco e pouco tendem a melhorar. Nem tudo e’ mau ou uma desgraça! E também não devemos ter receio de que alguém saia de forma a encontrar algo que não existe em Portugal. Sei-o por conhecimento de causa, se existirem condições aceitáveis a esmagadora maioria das pessoas volta e isso e’ muito positivo para Portugal evoluir e crescer.


Faz-se boa investigação no nosso país, ou isso continua a não motivar os nossos governantes?
Sim, existem bons exemplos de investigação excelente no nosso pais. O principal problema e’ que Portugal parte de uma posição bastante atrasada quando comparada com outros países. Houve tempos em que mexer em algo, na investigação ou nas Universidades, era encarado com algo a evitar a todo o custo. Acho, numa analise distante e sem simpatias partidárias, que finalmente se encara a ciência como algo essencial ao nosso desenvolvimento.

Pensas voltar a Portugal nos próximos anos para ficares cá a trabalhar?
Obviamente que tenciono! Não me imagino a viver fora do meu pais durante muito tempo. Ninguém sai de Portugal de ânimo leve e com um sorriso nos lábios.

O que é que os EUA é mais apetecido que o Portugal?
Não rumei aos EUA para obter novas experiencias pessoais, mas sim para trabalhar com as pessoas mais capazes na minha área. O que falta a Portugal e’ a mentalidade de investir na qualidade. Por exemplo, o meu orientador foi “assediado” durante vários anos por várias Universidades. Estas não desistiram enquanto não atingiram os seus objectivos (ter os melhores a trabalhar com eles). Este comportamento não se observa em Portugal, não e’ normal ver as Universidades a procurarem os melhores professores portugueses ou estrangeiros para os seus quadros. Quem perde somos todos nos, devido a essa visão fechada e adversa ‘a mudança.
Depois tudo e’ mais fácil e rápido em termos de trabalho cientifico. Se tenho uma ideia de uma possível experiencia, desenho toda a experiencia e compro o necessário para a sua execução, num dia, sem mais demoras ou burocracias. Num espaço de dias tenho a experiencia a correr. Em Portugal e’ tudo mais lento, burocrático e sempre com maquina de calcular na mão… Não existe margem para arriscar…



As perguntas sao do Nelson jornalista que na altura trabalhava para o jornal Terras do Ave e nunca chegou a ser publicada.

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