"Nunca conheci quem tivesse levado porrada."

2008/04/29

Como se define um país rico?


Como se define um “país rico”? Se fizermos um inquérito questionando os nossos responsáveis políticos se Portugal está hoje mais rico ou não do que um ou dois anos atrás, antecipo que a resposta estará directamente relacionada com evoluções do Produto Interno Bruto (PIB). Embora obviamente reconheça que o PIB seja um parâmetro importante, considero que a relevância do PIB é completamente sobrevalorizada. Não deve ser esse o parâmetro fundamental, utilizado pelos governantes, para auferir se as soluções politicas estão a construir “um país mais rico”. Os governantes deveriam entender o desenvolvimento da nação não apenas numa escala meramente economicista. Deveríamos antes avaliar o sucesso das opções político-económicas com base em critérios mais largos, transversais e abrangentes como por exemplo o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

O PIB é um dos principais indicadores para auferir a saúde económica de um país. Normalmente é expresso em percentagem e em comparação com um determinado lapso temporal (trimestre, semestre, anual, etc.). Como é fácil de constatar a produção económica e crescimento, medido objectivamente através do PIB, induz um forte impacto na saúde económica de país e por arrasto na psicose social das massas. Contudo, aceitar sem discussão que crescimento económico, medido directamente por evoluções positivas do PIB, induz directamente expansão da qualidade de vida e desenvolvimento desse país é um erro.

O IDH foi inicialmente desenvolvido em 1990, entre outros, pelo prémio Nobel da economia (1998) Amartya Sen e basicamente correlaciona o progresso económico com a evolução de outras necessidades humanas, nomeadamente a esperança de vida, acesso e níveis de educação e de conhecimento, equidade social, segurança e sustentabilidade de uma nação. O IDH faculta uma perspectiva mais assertiva e de longo prazo das evoluções económico-politico-sociais de um país, ao invés das leituras de curto prazo associadas com o PIB.

Com base nos dados de 2007, Portugal ocupa o 34 lugar, em termos de PIB (per capita), numa tabela liderada pelo Luxemburgo seguido da Irlanda e Noruega. Contudo, em termos de IDH, Portugal aparece na 29ª posição, sendo que a Islândia, Noruega e Austrália repartem as três primeiras posições. No entanto e ao contrario da evolução positiva (em comparação com o ano transacto) do PIB, Portugal desceu mesmo uma posição no ranking do IDH. Dos 70 países que apresentam um IDH alto (entre 1 e 0.8) em 2007, apenas 3 países diminuíram o IDH e infelizmente Portugal foi um desses países.

É muito comum, por exemplo, ouvir os nossos políticos assumir (e por arrasto a sociedade também...) que Portugal deveria obter incrementos do PIB acima da media dos membros da União Europeia, quando se deveria antes apontar para incrementos do IDH. As nações em vez de traçarem objectivos nacionais em torno do PIB, deveriam antes utilizar o IDH como base de referência. Seria mais lógico e razoável utilizar o IDH para responder à questão inicial de como se define um pais rico em vez de utilizar o parâmetro friamente economicista que é o PIB.

3 comentários:

Unknown disse...

Ainda a semana passada (ou na outra, sabes que em geral ando 1 semana atrasado em termos de publicações :D) li um artigo no Expresso precisamente sobre esse assunto, da autoria do Daniel Amaral ("A Força dos Números"). Ele defende que é errado a comparação de PIB entre países com realidades muito distintas, desde logo pela demográfica.

http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/290800

Um abraço e bom regresso!

Unknown disse...

Sorry, uma rectificação ao meu anterior comentário... a pessoa em questão não defende que é errado mas sim que conclusões obtidas a partir de determinadas análises do PIB poderão não ser totalmente precisas.

RR

Unknown disse...

Inteiramente de acordo para a necessidade de irmos melhorando o os nossos indicadores de desempenho (e o PIB é um desses).

Para que a alteração para outro indicador mais pluri-dimensional(IDH ou outro) seja viável, também será necessário vencer a resistência à mudança por parte dos estatísticos. É que o PIB tem a vantagem de ser um indicador já bem conhecido e implantado...

Por outro lado, há muitas questões (regras legais, institucionais) que giram à volta do PIB e que necessitariam de adaptação. Que seria dolorosa (porque a malta não quer ter chatices, só porque alguém se lembrou de mudar um indicador). Daí que, ou se tem muita vontade política, ou continuaremos com um indicador que tem muitas desvantagens.

Há quem diga que é preferível ter um mau indicador do que não ter nenhum.

Aqui cito o nosso amigo Xiri: "mais vale ser rico e com saúde, do que pobre e doente"...

Arquivo do blogue