"Nunca conheci quem tivesse levado porrada."

2003/10/14

Jantar em restaurante Koreano.
É bom e os pratos são bem servidos. No fim o preço ronda os 6-9 $. Algo que é bastante aceitável.
O jantar foi na companhia do meu roomate e um dos temas de conversa foi um artigo do Mário Pinto do Público de hoje.
Para quem leu este artigo sabe de imediato de que o tema andou por volta das propinas e o Ensino Superior em Portugal.
(É habitual aproveitar os almoços e jantares para ler partes dos jornais portugueses...)
Quando entrei em 1994 para Universidade de Aveiro, paguei propinas. Logo depois concorri de novo e em 1995, o valor foram uns ridículos 1200 escudos. O diálogo imobilista do PS/Guterres estava no poder.
De seguida o valor das propinas foi taxado ao ordenado mínimo nacional (rondava os 60-70 contos). Com esse valor das propinas terminei os meus estudos de Licenciatura.
Desejo ainda referir que sou ainda do tempo, em que existiram manifestações a propósito da PGA (A famosa prova geral de aceso) e que tenho bem presente na minha mente o momento mesquinho e cobarde de um grupo de estudantes que baixaram as calças a Manuela Ferreira Leite (na altura Ministra da Educação).
Também vivi e senti na pele coisas organizadas e sem senso, como foi por exemplo a entrada numa sala de exame de um grupo de estudantes que queriam à força impedir que outros fizessem as "Específicas".
Estes vários momentos e episódios, servem de forma a retratar toda a instabilidade e irracionalidade com que se discute a Educação em Portugal.
Hoje começa a existir nas Universidades um clima de levantamento popular (Tendo em conta a sondagem hoje publicada, questiono-me, qual a legitimidade factual destas manifestações...) contra a política do Governo para este sector.
Para variar um pouco, só se ouve falar em proprinas.
Aliás as Associações de Estudantes do Ensino Superior, devem ter tido um curso de formação idêntico, pois as frases são sempre as mesmas e repetidas em formas às vezes, diga-se com justiça, originais. Mas o conteúdo é bem velhinho. Para um Presidente de Associação Académica o seu trabalho só será válido se gritar bem alto que é contra esta política para o Ensino Superior...Ainda não vi um único dirigente associativo a falar sobre as suas contas...(Lembro-me de um episódio na FEUP, em que nas contas da Associação aparecia descriminada um rúbrica contablistica denominada "Outros Fluídos"... Depois de ser discriminada águas e comidas para os elementos da direcção.)Também pouco sei sobre os lucros das Queimas das Fitas...
Relembro-me que quando o valor da proprina era de 1200$, o discurso corrente era sobre a qualidade do Ensino e a Acção Social. Suponho que hoje é o mesmo associado ao "cavalo de batalha-Propina".
Na minha opinião é impossivel oferecer tudo. É muito dificil oferecer Ensino de qualidade, aumentar o número de licenciados formados e aumentar a acção social com uma gratuitividade do Ensino Superior.
Não se pode convidar os melhores professores e cientistas, sem uma qualidade elevada nas Universidades.
Por exemplo aqui nos EUA, os valores das proprinas praticados pelas Universidades varia, sendo as mesmas instituições a decidir esse montante. Nessa forma os próprios Professores e investigadores são também contratados, a nível individual, existindo professores com a mesma posição na carreira mas devido aos seus contributos cientificos a ganhar mais.
Ora toda a discussão em volta de alguns destes aspectos que mencionei, não se fazem. Não se vê um dirigente associativo a comentar o que pensa sobre a progressão carreira docente e sobre os incentivos que os professores devem ter para produzir mais e melhor numa Universidade.
A mim me entristece, ouvir da boca de alguns Portugueses, meus colegas, dizer que em Portugal não tem hipóteses de dar aulas, porque o sistema interno das cunhas e padrinhos das Universidades não o permite. Irrita-me saber que Portugueses que recebem propostas de Berkley ou Stanford, me expressarem que as aceitam porque em Portugal são vistos como meninos convencidos e intrusos no sistema.
Qual é o ganho, de ter em Portugal uma Universidade que age e pensa como uma Escola Secundária Superior, em que apenas serve para ensinar e licenciar alunos e que a parte científica resume-se a umas aulas de laboratório, e não para produzir artigos científicos aceites pela comunidade internacional...
Deixo, para terminar, algumas questões e reflexões... Tentem saber a quantidade de artigos científicos (em revistas com factor de impacto) que cada Universidade produz por área. Investiguem, por exemplo, quantos Departamentos vivem á custa de um ou dois professores, ou mesmo verifiquem o número escandaloso de professores que nada produzem.
Eu em tempos vi os números da minha Faculdade (Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto) e fiquei abismado com a falta de produção.
A tudo isto aos estudantes professores e reitores não vale a pena discutir ou tornar público...

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