"Nunca conheci quem tivesse levado porrada."

2004/02/02

Fuga de cerebros...III

a
Na seccao "Cartas ao Director" do Publico de hoje, li esta interessante carta...

Fuga de cérebros
Eis-me na Livraria da Travessa na Rua
Visconde Pirajá, Ipanema, Rio de Janeiro.
Numa prateleira, um livro sobre a astronomia
na época dos descobrimentos. Na
contracapa, o seguinte: “Portugal alcançou
a liderança dos descobrimentos no
século XVI por ter sido a primeira nação
a transformar a pesquisa científica e
tecnológica em política de Estado. Foi a
abertura das suas fronteiras às mentes
privilegiadas dos especialistas espanhóis,
catalães, italianos e alemães em especial
judeus e mouros notáveis astrônomos e
matemáticos, que permitiu ao governo
luso o domínio dos mares.”
Estas palavras foram lidas com imensa
amargura. Como é possível termos regredido
tanto em termos civilizacionais? O
que seria hoje de Portugal se tivéssemos
continuado uma política de investimento
na investigação em Matemática e na
ciência(...)?
Estava de visita ao Instituto de Matemática
Pura e Aplicada (IMPA), com um
grande número de alunos de doutoramento
oriundos especialmente da América Latina
e de... Portugal. Fora convidado para
apresentar um seminário pelo professor
Marcelo Viana, carioca de nascença e filho
de portugueses, que regressou para o Rio
de Janeiro após completar a licenciatura
na Faculdade de Ciências da Universidade
do Porto, aliciado a realizar doutoramento
em Matemática no referido instituto.
Desde então, Marcelo Viana obteve lugar
como investigador do IMPA, tornando-se
num dos matemáticos mais conhecidos a
nível internacional na área da teoria ergódica.
Em conversa com portugueses que
irão terminar o grau de doutoramento este
ano, facilmente se percebe a angústia de
quem gostaria de voltar para as terras
lusas, mas que sente que neste momento
pura e simplesmente não há empregos.
Consciente deste facto, a Fundação para
a Ciência e Tecnologia (FCT) enviou uma
carta a todos os bolseiros referindo a situação
actual de Portugal, mas deixando
algumas palavras de esperança para todos
os que querem voltar.
Foi criada uma aplicação disponibilizada
no “site” da FCT tendo em vista
a recolha de dados pessoais dos actuais
bolseiros, “por forma a permitir uma
actuação tanto quanto possível objectiva
junto dos potenciais empregadores”.
Coincidência ou não, a versão europeia da
revista “Time” apresenta esta semana um
artigo sobre a fuga de cérebros europeus
para os EUA. A razão é muito simples: os
americanos, assim como os portugueses
do século XVI, perceberam que o investimento
em investigação de alta qualidade é
sinónimo de desenvolvimento e progresso
económico e social.
Quando é que as empresas portuguesas
vão perceber que vale a pena investir na
investigação como faz a IBM, por exemplo,
que possui um departamento de Matemática
com pessoal de alta gabarito internacional?
Será possível aliciar os grandes
“cérebros” a trabalhar no estrangeiro que
poderiam dar um grande contributo para
Portugal mas que não voltam por falta de
emprego?
Não deixou de me espantar a exclamação
proferida por um taxista membro da
vasta comunidade indiana residente em
Inglaterra: “Então os portugueses, que
navegaram pelo planeta, agora têm de
vir aprender Matemática a Inglaterra?”
Sejamos positivos e tenhamos esperança
com as últimas declarações do primeiroministro.
MIGUEL MENDES
Porto

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