Ponto Prévio: Este post resulta de trechos retirados de uma trioca de emails com os meus colegas de Doutoramento da Gulbenkian... Após um desabafo (talvez a ser publicado em breve...) sobre a minha irritação que a “elite lisboeta” me desperta, se iniciou a discussão via email...
São varias as vezes que dou por mim nestas andanças, vociferando contra a “elite lisboeta”. Nesse sentido decidi passar o email para post... Aqui fica.
-Email de uma “lisboeta”-
Eduardo, o texto está mt bem escrito. Se foste o autor, parabéns! No entanto, visto estar obviamente fora do contexto, deixa-me dizer-te que vendo de fora parece simplesmente dor de cotovelo em relação a Lx! Desculpa lá, mas tens de resolver isso!!!
-Resposta-
Antes de tudo, obrigado pela confiança que depositas em mim, mas de facto fui eu que escrevi aquilo tudo (retirando, obviamente a melhor parte, o trecho do poema em linha recta de Álvaro de Campos).
Mas, com frontalidade te digo, a tua resposta foi também típica. Sou assim e não hesito em te afirmar directamente: não fiquei minimamente surpreendido com que o escreveste. Essencialmente e na tua opinião, eu tenho dor de cotovelo e vejo sempre o lobo mau nos lisboetas (interessante e' afirmar que poucos são os lisboetas de facto, mas pronto, faz de conta, associarei a “lisboeta”, a geografia de toda a sua área metropolitana, por exemplo...). mas não só, tenho um problema e nesse sentido deverei talvez ter consultas de psiquiatria de forma a resolver este trauma que assombra o meu espirito... Ora, e falando mais a sério, tenho pena que o argumento (utilizado pelos “lisboetas”) seja sempre o mesmo; muito forte em argumentação e passível de imensa discussão: "Vocês ("bimbos do norte que dizem palavrões a torto e a direito") tem um problema com a gente; azar o vosso, resolvam-no." Em suma e' apenas mais uma versão daquela missiva muito “tuga”: “Estas mal?... Muda-te!”
Pois bem, A., tenho pena que assim penses, mas ao menos agradeço a honestidade frontalidade que como vês as coisas. Mas, devo-te relembrar que a "minha gente" (aqueles que não se calam, por mais pobres que estejam!!!) não trata as coisas de sa forma. Não fugimos, nem assobiamos para o lado. Ao contrario do que afirmas, não somos nós que temos um problema, somos TODOS nós como país que temos um problema. A minha "gente" desde sempre mostrou que "por lá por cima" se discute as coisas, não se adia ou se tapa o sol com a peneira (nem ha muito sol, vê lá tu, ironia das ironias; associam sempre "vocês" ao Porto). Mas de facto tens razão, tenho um problema com toda a elite lisboeta.
Facilmente pensaras (embora se calhar não o afirmes...): - sente-se (eu, claro está...) diminuído intelectualmente e por isso mesmo faz todo este barulho, coitado. Pois bem, confesso aqui vergado pelas evidencias da confrangedora auto-comparação que fiz entre mim e a “elite lisboeta”(ja agora subscrevo respeitosamente um saco de bolas de naftalina, tal e' ausência de aragem fresca que passa pelas suas cabecinhas) não li os grandes filósofos ou escritores franceses (todos eles, faróis de toda a “iluminidade intelectual” ocidental), nem mesmo conheço de cor grandes estudos sociológicos, tudo o que em suma prove o quanto ignorante sou...
Sou assim, “bimbo”, apenas leio poesia (e mais do que a ler, a aprecio imenso) e no limite aproveito-me dela (não como forma de provar status intelectual ou marcar pontos na escala vaidosa de intelectualidade, mas antes por reconhecer o quanto limitado sou em expressar o que sinto...) sempre que possível...
Olha, sou assim e por isso mesmo:
"Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por ai!" (Jose Regio)